Santa Casa Da MIsericórdia De Azinhaga

Santa Casa Da MIsericórdia De Azinhaga

"Como se conhece, a Santa Casa da Misericórdia foi instituída, em ano indeterminado do século XVI, por quatro confrarias na antiga Matriz da paróquia de Santa Maria do Almonda. Como instituição é, pois, anterior a 1572, data gravada (e ainda hoje visível) na pedra cimeira da sua Igreja, indicativa da conclusão do edifício – sede onde se instalou.

A propósito, recorda-se que é um imóvel de bonita arquitectura rural, único existente no Ribatejo. Como todas as casas nobres (nobreza, que no caso, significa sumptuosidade, distinção, raridade), mas como todas e quaisquer casas deste tipo, deve ser respeitada e acarinhada como as pessoas de bem. Sobretudo, por ser um monumento que, embora simples, embeleza e engrandece o património artístico do povoado.

Esquecidos estiveram, ao longo dos tempos, não só as suas provedorias, como também o ror de intrusos que aí estiveram instalados. O actual momento da vida da Misericórdia, parece-nos propício, pelo menos, para o reencontro dos irmãos com a sua casa-mãe. Isto é, há o dever, mais, a obrigação dos responsáveis pela sua possível (que é) recuperação. Cuidando-se, como primeira preposição, de repor, sem bastardias, a dignidade da sua traça.

As Santas Casas que tiveram como fundadora, no século XV, a Rainha D. Leonor mantiveram, felizmente, nos seus “quase cinco séculos de existência, e excluídos apenas os últimos decénios”, a mesma dinâmica cristã, constituindo “o polo integrador de toda a acção assistencial”, como descreve o Dr. Adalberto Valente da Cruz, membro do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas.

Exactamente o que, durante a sua vida, a Instituição procurou conseguir, em Azinhaga, com maior ou menor dificuldade. O seu pequeno hospital, que o houve, acolheu e tratou os doentes em qualquer época, mesmo nas da peste, com inegável sentido de humanidade. E quando os mendigos, os bons e os maus, percorriam o País de lés a lés, procurando sustento e abrigo, aqui, a conhecida “casa dos pobres”, embora por períodos limitados (havia que dar a vez a outros), os acolhia e alimentava. Sem que lhes perguntassem quem eram e donde vinham, forneciam-lhes, além da quentura de um tecto, uma sopa caldivana, de raras calorias, proteínas e gorduras, mas, tal como podiam, aconchegável e amiga.

Que a Misericórdia, esta, nunca foi rica. Embora possuidora, quase sempre por herança testamentária, de algumas propriedades e oliveiras dispersas nos baldios, foi, por regra, deficitária. Nisto, aliviavam-na as dádivas precisas dos irmãos.

Com a instauração do Liberalismo, um vendaval a (as) varreu. Os seus bens, poucos mas úteis, foram confiscados pelo Estado que, ao desbarato, os vendeu a quem quis.

O mais certo, familiares e amigos de responsáveis. Sem um avo devolvido, como recompensa ao seu cofre vazio.

Daí que as suas dificuldades crescessem. Na prática negaram-lhe as suas anteriores capacidades assistenciais. A população sentiu-o no estômago, nas crises grandes, e na carne, quando adoecia. O hospital fechou. A casa dos pobres continuou aberta. Sem mais nada, aberta.

Mas, como pôde, e não se leva a mal que nem sempre da melhor maneira, tentou auxiliar os necessitados.

Foi quando, por conveniência ou distorção mental, se trocou assistência por caridade. Começaram os bodos aos pobres pelo Natal, como se, nos outros 364 dias, as pessoas não precisassem de comer. E isto com o espavento de, sem darem um chavo, parecer distribuir fortunas. Deus não quer manifestações destas. Apesar disso, prolongavam-se por anos.

A Santa Casa afundava-se. Os mais conscientes consideravam o facto. E, para ser ela própria a sobreviver, foi forçada a alugar, por tuta-e-meia, o seu edifício ao Estado, para instalação da escola primária. Com a construção, pela Junta de Freguesia, de escolas modernas, o prédio foi-se degradando, até que, a partir de 1941, a Casa do Povo o arrendou, recuperando-o na medida das suas necessidades. Recuperou-o, isto é, não o deixou cair.

Embora Irmandade de formação cristã, a Igreja pouca influência teve na sua administração. Respeitavam-se a distância porque ambas se conheciam do outro lado da rua.

Tanto assim, que não há memória de um clérigo ter pertencido à sua mesa. A confirmá-lo, pelo que apuramos, os provedores que, com um ou mais mandatos, dela fizeram parte de 1870 à actualidade: José Serrão de Faria Pereira (3), coronel Augusto Serrão de Faria Pereira (2), João Pereira de Nascimento, Joaquim Ferreira Cardoso (2), José de Faria Azevedo Vellez, José Serrão de Faria Pereira, filho (3), Dr. Acácio Borges Pereira da Silva, Ângelo José de Carvalho (2), Custódio Bastos, Augusto Manuel Serrão de Faria do Souto Barreiros, Manuel Grácio Tavares Veiga, João Maria de Oliveira Nunes e Maria de São José Reis Mendes.

De 1974 a 1980, a Misericórdia foi dirigida por uma comissão administrativa presidida por Augusto Jorge Costa.

Durante anos, foram seus presidentes da assembleia-geral, José Serrão de Faria Pereira, Engº Manuel Tavares Veiga, Dr. Acácio Borges Pereira da Silva, José Serrão de Faria Pereira, filho, José Francisco Quelhas Serrão de Faria e Engº João Monteiro Coimbra.

A Santa Casa, até meados deste século, substituiu o Estado na assistência que prestava à população, a partir de 1941, paralelamente com a Casa do Povo. Deficiente, incompleta, por falta de verbas, não fora atenuada pela realização das afamadas “Noites Ribatejanas”. Caso contrário, teria ensombrado a imagem que sustentara até ao advento do Liberalismo. Presentemente, a previdência, ainda que duvidosa, é da responsabilidade do Estado. E céus! Antes do Estado que da tão proclamada “iniciativa privada” cuja meta é o lucro, desimportada do mal alheio.

As Misericórdias, entretanto, voltam-se para novas obrigações: criação de centros de dia, de ludotecas, de bibliotecas; clube de emprego, apoio domiciliar, principalmente aos idosos, obra cristãmente válida, sobre todos os aspectos; propondo-se, ainda, “corrigir e compensar os desequilibrados individuais ou colectivos da população de Azinhaga, incidindo sobre as causas e não, apenas, nos seus efeitos. Intervir, a nível colectivo, apurando a satisfação de algumas necessidades sociais ...” .

Tenta, por outro lado, “incrementar o desenvolvimento económico da freguesia de Azinhaga... , fomentando a criação de postos de trabalhos para compensar o desemprego na agricultura” .

Ainda, “assegurar... a participação das pessoas no processo de desenvolvimento... ; incentivar a participação dos próprios na defesa dos seus interesses através das formas de organização e modo de vida que satisfaçam a sua economia.

Dinamizar os serviços e entidades locais no projecto de desenvolvimento dentro das suas competências específicas de modo a conseguir-se um aumento de recursos e melhoria das condições de vida” .

E tudo isto com boa vontade e minguados recursos, para um programa ambicioso que se justifica pelo desequilíbrio social que o País, em geral, e a aldeia, em particular, atravessam. Oxalá, pois, os responsáveis não esmoreçam dos intentos que se propõem e os possam levar adiante com energia, fé e mão segura.

Informações

Morada: Rua da Misericórdia n.º 4, 2150-021 Azinhaga

Telefone: 249 957 200

Galeria de Fotos

1620

Habitantes

38,21

Área/km2

42,4

Habitantes/km2